setembro 28, 2010

Nietzshe

Abaixo segue um resumo geral de Nietzsche (e, dentro dele, passagens e as principais idéias de Crepúsculo dos Ídolos, que vocês deveriam preferencialmente ler).

Desculpem-me por não postar nada de Heidegger, Frankfurt e outros temas de filosofia. acontece que não tive eles no meu terceiro ano - Leiam no livro "Filosofando" que é a base do conteúdo do Eduardo Jobim. Se as aulas da UnB não tivessem voltado, faria para vocês algum resumo. Quando for assim, por favor avisem com mais antecedência (e não na ante-véspera da prova).

Abraços,

Félix


“O homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras)

“O ser é mutável” (Heráclito)

Influenciado pelos gregos, em especial pelos pré-socráticos, por Heráclito e por Protágoras, Nietzsche estudou o sistema político grego antes da democracia, as tiranias aristocráticas. A partir daí, ele se convence que a aristocracia (e não a democracia) é a melhor forma de governo, pois valoriza as habilidades políticas daqueles que lutaram para chegar ao poder.

Sobre a democracia na Grécia, Nietzsche diz ser o “pior mal” dos gregos, na qual a vontade da maioria prevalece e todos têm igualdade jurídica (isonomia): o voto do analfabeto e do sábio são iguais. Para ele isso é um absurdo, pois, se você tem merecimento, sua voz política não pode ser a mesma de pessoas menos merecedoras. Ainda sobre a política na Grécia, ele fala da escravidão - separando duas morais:

a) Moral do Senhor, do aristocrata: moral da aristocracia, da valorização da inteligência e do intelecto acima do braçal. É a moral que foca mais o lado dionisíaco (similar ao Deus do prazer e dos instintos, Dionísio) do homem, liberando seus instintos. Impõe sua vontade sobre o escravo.

b) Moral do escravo: moral daqueles que são presos por vontades de outros (dos senhores) e que, portanto, não podem exercer seus instintos. São guiados mais pela razão, pelo lado apolônico (Deus grego da razão e da luz Apolo) do homem. Odeia o senhor, mas é submisso a suas vontades.

Críticas de Nietzsche…

A) A Sócrates/Platão – agentes da decadência: lutam contra a democracia mas criam um novo tirano contra os sentidos: a razão como valor máximo. A diferenciação platônica/socrática de mundo racional (ideal) e mundo dos sentidos (aparências) e a valorização dos sentidos acaba com a expressão do que é mais natural no homem: seus instintos. Sendo assim, a relação de razão = virtude = verdade instituída por Sócrates é falsa e manipuladora.

B) A Kant – a possibilidade da existência de Deus (o mundo transcendental) limitando a razão e a existência de uma razão pura é um cristianismo velado, para Nietzsche. Os imperativos categóricos (regras inatas, categorias) limitam o conhecimento e a expressão dos instintos.

C) À Democracia grega – a igualdade jurídica dá valor igual àqueles que merecem (sábios, aristocratas) e àqueles que não merecem (analfabetos, plebe). Assim, é criada uma mentalidade de que não é necessário vencer na vida para ter direitos (conformismo)

D) Ao Estado Moderno e Educação moderna: estabelecer um estado democrático e pregar uma educação obrigatória e igualitária para todos, valorizando certas profissões em detrimento de outras, o que limita a expressão dos instintos do ser. Como assim? Se o cara quer fazer engenharia florestal e escolhe medicina por uma questão financeira, ele deixa de exercer seus instintos. Outro problema da educação moderna é querer que todos aprendam as mesmas coisas: para Nietzsche, existem aqueles mais sábios (aristocratas) que devem se dedicar aos estudos mais aprofundados nas universidades, elitizando o saber.

E) À Igreja Cristã/Católica: a instituição de uma moral, de um Deus (razão pura e eterna), de valores e de regras (virtudes X pecados; salvação x condenação) cria limites para os instintos – o cristão é aquele que combate seus instintos e se conforma com a vida terrena como ela é, não se esforçando para superar obstáculos ou desafios.

F) Contra o igualitarismo socialista e liberalista. Essa tal “liberdade”, para Nietzsche, é a criação de uma uniformidade cultural, resultante de manipulação pelas classes dominantes – formadoras de opinião. Acusa as tentativas de padronização de valores como aprisionamento das liberdades individuais e coletivas de cada povo.

Os ídolos: são as próprias morais ou verdades ensinadas durante vários séculos e se tornaram verdades absolutas, mas que não passam de interpretações da realidade que são convenientes para aqueles que detém o poder (Igreja, Estados). Ao falar desses ídolos em “Crepúsculo” (não, não é o do vampiro), ele quer dar a idéia do fim de uma era de falsas verdades (os ídolos) e o início de uma nova moral (que ele propõe).

Arte, para Nietzsche: para ele, a arte é a expressão completa dos instintos, é a realização do ser humano. Para se alcançar um estado de espírito propício para a arte, é necessário se encontrar num estado de embriaguez da alma – ou seja, algum prazer ou satisfação plena dos sentidos, seja pelo prazer carnal, pela bebida, pelo jogo, pela vitória ou por qualquer realização pessoal. Somente num estado de embriaguez o homem se livra de seus escrúpulos e de suas prisões morais para poder expressar completamente seus sentidos. Tanto o Estado Moderno quanto o Cristianismo, por criarem morais ou limites para a expressão humana, são obstáculos para o “artista”.

Ascensão e decadência da sociedade: para Nietzsche, uma sociedade está em decadência quando suas ideologias dominantes se baseiam na razão e/ou na moral; daí dizer que Sócrates e Platão são “agentes da decadência” (eles criam um ideal de um mundo racional e de uma razão pura). Para ascender, a sociedade deve romper com a razão/moral e dar total espaço para a emoção e aos instintos.

A supervalorização do homem (“O homem é a medida de todas as coisas”) leva, em Nietzsche, à valorização da potência humana, à capacidade de superar os desafios da vida e chegar à expressão máxima dos sentidos/instintos, ou seja, à arte. Essa nova moral de valorização é a “moral do ‘Super-Homem’”, do homem superando-se a si mesmo nas dificuldades da vida, sem se preocupar com um sentido final da vida (sem vida após a morte, sem um ideal – apenas vive-se de acordo com os instintos).

Dentro da nova moral, temos uma tal de “vontade de potência”, que é a vontade de expandir o pensamento, de colocar sua vontades e seus instintos (emoções) acima das vontades dos outros. É o que permite ao homem superar as suas próprias debilidades.

Niilismo

Com a nova moral do “super-homem” e a valorização dos sentidos em detrimento da razão ou da moral, surge a idéia de niilismo, ou seja, a ideologia do nada – a negação de qualquer valor moral norteador e o reconhecimento de que as ideologias humanas são passageiras – a felicidade não vem mais de uma ideologia fixa. No capitalismo isso é muito visível no culto ao consumismo, onde todos os valores se tornam efêmeros frente ao dinheiro – culto ao consumo = consumerismo. Nietzsche relaciona o niilismo a um “eterno retorno ao passado”, no qual as pessoas tentam basear suas idéias consumistas/consumeristas em valores morais de ideologias/religiões “ultrapassadas”.

Classificam-se dois tipos de niilistas:

a) ativo = aquele que conscientemente cria sua própria ideologia, que “sabe o que está fazendo”. Ele tem uma certa “originalidade” de pensamento; ele faz o “retorno ao passado” de maneira consciente, acreditando realmente na sua ideologia, por mais que esteja repetindo valores já pregados no passado.

b) passivo = segue a maioria, a “moda”, como uma ovelha num rebanho.

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