setembro 28, 2010

Literatura - 2ª Fase Modernista

Está tudo bem detalhado de toda a 2ª fase (ou tempo) modernista, já que não sei exatamente quais autores o Lacerda está citando. Pra evitar faltar, melhor sobrar...

FASE REGIONALISTA

A segunda fase da escola modernista no Brasil se manifestou num contexto histórico de mudanças, em âmbito tanto nacional (com a Era Vargas) quanto internacional (com a Segunda Guerra Mundial). Considerando então a época em que produziam, os escritores modernistas da segunda fase mudaram o foco de crítica, moderando seu diálogo e dando ênfase a aspectos mais humanos e universais (em detrimento da temática revolucionária da primeira fase) – em suma, eles deixaram de criticar por criticar e começaram a se importar com a crítica relacionada com o social e com os problemas cotidianos.

Foi um período de estabilização e sedimentação das conquistas da primeira fase, tais como a liberdade temática, o apoio popular à arte moderna, o interesse da burguesia pelo movimento e as mudanças estilísticas (fuga do academicismo das escolas anteriores). A poesia, assim como na primeira fase, se fixou como principal forma literária e ganhou uma carga social (crítica), espiritualista e surrealista (mistura de sonho e realidade; emocional e racional).

Embora a poesia reinasse, a prosa de caráter neorealista (intimista) e neonaturalista (psicológica) começou a ganhar mais importância, roubando o lugar da poesia na terceira fase moderna. Os temas da prosa nessa fase são, especialmente, regionalistas: o desenvolvimento industrial nascente em São Paulo (Era Vargas) e os problemas do Nordeste – seca, retirantes, miséria. Mas, por mais que eles focassem os problemas regionais, a crítica era feita por um ângulo da burguesia paulista, ou seja, de maneira idealizada (Como assim? Os nordestinos eram vistos como coitados que só passam a vida debaixo do sol ardente, sem condições de desenvolvimento e com a necessidade de sair do Nordeste e ir para o Sudeste tentar a vida; ou seja, é uma visão que idealiza o sofrimento e idealiza a visão do Sudeste como acolhedor e salvador da pátria.)

Mas da prosa a gente volta a falar depois. Vejamos a poesia, dividindo em autores mais relevantes:

Ø Carlos Drummond de Andrade – o “Poeta Maior”

Considerado o primeiro a fazer nome e se estabelecer com a literatura depois da Semana de Arte Moderna (22), Carlos Drummond de Andrade começou a fazer nome escrevendo para jornais e revistas literárias como a “Antropofagia” (inspirada no Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade). Sua primeira publicação a ficar largamente conhecida foi em 1928, na “Antropofagia”, pelo nome de No meio do caminho, que é aquela que, me perdoe quem goste, é um saco! “Tinha uma pedra no meio do caminho/ no meio do caminho tinha uma pedra (…) Não me esquecerei/ que no meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho. Mas, depois de suas publicações corriqueiras em jornais, ele publica o livro “Alguma Poesia” em 1930, com o famoso Poema de Sete Faces, que é um poema de sete estrofes completamente independentes entre si ( a temática é de influência surrealista, pois mistura realidades distintas e independentes numa mesma obra, chegando a uma conclusão crítica final).

Sua poesia pode ser dividida de acordo com as fases de sua vida: a juventude (“eu maior que o mundo”: espírito jovial, aventureiro, revolucionário), a maturidade (“eu menor que o mundo”: problemas pessoais, impotência perante os problemas cotidianos) e a velhice (“eu igual ao mundo”: conformidade defronte os problemas, visão geral da vida). Suas principais características são…

§ Anti-lirismo, com uma linguagem substantivada (como assim? Assim: ele deixa a poesia seca de palavras, sendo mais objetivo, usando poucos adjetivos e conectivos. É anti-lírico pois o que dá lirismo – fluidez – à poesia é a organização coesa de elementos gramaticais diversos como adjetivos, advérbios, conjunções, etc.).

§ Poesia vertiginosa, ou seja, que causa vertigem por mudar muito de ângulo, de ponto-de-vista.

§ Humorista, sendo irônico inclusive sobre sua própria pessoa (“Um dia um anjo torto/desses que vivem nas sombras/me disse: Vai, Carlos/ser gauche na vida” – gauche: torto, errado). Seu humor é seco, sarcástico, corrosivo (influência de Machado de Assis).

§ Intelectual, de poesia elaborada e objetiva. Ele também faz poesia pessoal, mas fala muito brevemente e objetivamente de sua infância, de sua cidade natal e de sua família.

§ Preocupação social; diz-se como “poeta que espia expiando”, ou seja, que observa e analisa os problemas do mundo e sofre (expia) por eles. É o poeta do cotidiano, não retrata o passado nem se preocupa em prever/sonhar com o futuro. Faz crítica social (numa época de repressão política), como no caso da prisão da cantora Nara Leão (pelas letras críticas) e da greve dos lixeiros paulistas (que iriam ser enquadrados na Lei de Segurança Nacional).

§ Repetição. É o “estilista da repetição” e nem é preciso dizer porque, né? “O homem vai devagar/ As pessoas vão devagar (…)”; “Mundo, mundo, vasto mundo (…)”; “Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra (…)”. Isso deixa suas poesias mais enfáticas e mais anti-líricas (substantivadas, repetitivas).

Agora, falemos sobre um dos poetas mais líricos e mais lidos de toda a Literatura Brasileira: Vinícius de Morais.

Ø Vinícius de Morais – o “Fiel”

Conhecido internacionalmente por suas obras, tais como Soneto da Fidelidade e Garota de Ipanema, o sete vezes casado Vinícius de Morais foi um dos principais expoentes da poesia moderna brasileira, tendo grande parte de seus poemas musicados (por ele mesmo, por Toquinho e Tom Jobim, amigos pessoais) e lidos/ouvidos até hoje. O que conhecemos dele é basicamente de sua segunda fase, mas a primeira fase, ligada ao catolicismo, tem pouca relevância. Nessa fase, ele se envolve numa atmosfera neobarroca (Neobarroco é retomar o barroco), numa dúvida existencial entre o materialismo e o espiritualismo cristão. Mas, superada a fase da dúvida pessoal, ele começou uma fase mais universalista e de preocupação com o cotidiano que lhe rendeu a fama e as mulheres que ele teve em sua vida. Sua linguagem sensual e lírica, além de sua grande habilidade para sonetos, fez com que grande parte das suas letras fosse musicada (ou musicalizada, como queiram) ou transformada em peça teatral. Seu trabalho vai da poesia à crítica de cinema.

Agora a menina que colocou a mulher entre as figuras importantes da literatura…

Ø Cecília Meireles – a melhor poetisa brasileira

Influenciada por Alphonsus de Guimaraens, um dos principais nomes do simbolismo brasileiro, ela criou uma poesia Neo-simbolista e espiritualista que, com sua simplicidade, sensibilidade e nostalgia, lembra sonhos (linguagem onírica). Seus temas são simples e corriqueiros, como o lar, a infância, a música e o mar. Mas ela também fala de temáticas mais profundas e espiritualistas como a vida em si e a efemeridade/fugacidade da vida, falando da morte. Sua habilidade pode ser vista em contos, crônicas e, especialmente, poesias.

Uma vez tendo falado dos principais poetas (Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e Cecília Meireles), passemos para a prosa.

Similar à poesia, a prosa também se mostra como guardiã das conquistas da 1ª Fase modernista, como a liberdade formal e temática. O que muda é o crescente regionalismo presente nas obras – em especial o regionalismo nordestino, que fala da seca, do cangaço, da exploração do homem pelo homem (engenhos, escravidão, servidão), dos retirantes… Vejamos os principais autores e suas obras (clicando nas obras, vocês podem ler um pequeno resumo sobre cada uma delas):

· Focando no homem como fugitivo da seca – José Américo de Almeida – Com sua obra A Bagaceira (1928), José Américo de Almeida inicia a ficção regional/social nordestina; fala do homem como um animal que luta pela sobrevivência num ambiente seco, sem comida, apenas cheiro de comida (sinestesia: cheiro no lugar do gosto). Essa animalização do homem é de influência naturalista, que chamamos de zoomorfizaçção. Mostra as diferenças entre o sertão e o brejo; põe o homem em condições precárias de existência, fugindo da seca.

· Intenso registro da vida social dos nordestinos – José Lins do Rego – Em suas obras ele fala do ciclo da cana-de-açúcar (ascensão, domínio e declínio dos engenhos), sobre a exploração do homem pelo homem, sobre o declínio da sociedade patriarcal (valorização do papel social da mulher), sobre o êxodo gerado pela seca. Suas principais obras são:Menino de Engenho, Doidinho, Banguê, Usina e Fogo Morto (todas falando sobre o ciclo da cana-de-açúcar, sendo que as três primeiras são chamadas de “trilogia de Carlos de Melo”, nome do personagem principal das três obras – espécie de autobiografia do avô do autor).

· Livros de profunda análise psicológica – Graciliano Ramos – Melhor “prosista” da 2ª Fase, por muitos considerados como 3º melhor romancista brasileiro (depois de Machado de Assis e Manuel Bandeira), Graciliano Ramos mostra em seus livros uma análise psicológica profunda (neo-realista/neo-naturalista) do ser humano e dos seus problemas – em especial sobre os problemas dos nordestinos. Apresenta de forma nua e crua a podridão do homem, como em Caetés, livro no qual fala do adultério, e em São Bernardo, no qual fala de ambição – o “ter” no lugar do “ser”. Em Angústia (que, assim como Caetés e S. Bernardo, é narrado em 1ª pessoa, apresentando mais subjetividade), ele faz uma análise profunda e complexa dos problemas pessoais do ser humano – o livro se torna literalmente angustiante à medida que é lido. Mas seu principal livro, narrado em 3ª pessoa, é Vidas Secas. Nesse livro, Graciliano Ramos focaliza o tema da seca, oscilando entre contos e romance, sendo que cada parte do livro pode ser lida separadamente como um conto. Toda a obra é feita em antítese: homem x animal, seca x chuva, nomadismo x acomodação. É uma obra sem paisagens, sem diálogos, sem amor – literalmente torna-se “seca” a obra À medida que é lida (neo-realismo/neo-naturalismo).

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