setembro 28, 2010

Artes Cênicas - De Expressionismo até Grupo Oficina

Novamente, não sei até onde foi dada a matéria, então concentrem-se nas partes que vocês tiverem visto em sala...

· Expressionismo

Movimento alemão de vanguarda, começou no teatro por volta de 1909. Mostra o lado trágico, tenso e exagerado dos sentimentos humanos de forma grotesca (filmes de terror fizeram fama nessa época), sob influência dos pensamentos de Nietzche, Schopenhauer e Marx (política esquerdista/socialista). Como características, podemos citar:

Ø Quebra da linearidade do texto - voz em off, flashbacks, coro (explica o texto dentro do espetáculo - metalinguagem teatral).

Ø Interpretação exagerada - parece amadora, mas é propositalmente grotesca; muita maquiagem e expressões faciais intensas.

Ø Música de fundo exagerada, intensa, sombria.

Ø Iluminação para criar contraste claro-escuro.

Ø Cenário composto de partes como que improvisadas para dar impressão de amadorismo, exagero.

· Nelson Rodrigues

Desde pequeno, o doido e depravado Nelson Rodrigues escrevia peças de cunho expressionista e crítico. Seu trabalho como roteirista de teatro começou com a peça "A mulher sem pecado", que foi um fiasco. Depois apresentou a peça "Toda nudez será castigada", criticando a hipocrisia humana, com personagens tidos como "sujos" pela sociedade (lésbica, marido que bate na mulher). Foi bem aceita pelo público, mas sua principal obra (que até virou filme) é a "Vestido de Noiva" (clique aqui para ver uma análise completa da obra).

· Vestido de Noiva

A montagem original foi feita pelo diretor e encenador europeu Ziembinski, que revolucionou o teatro com sua atuação de encenador (ele direcionava a atuação dos atores para criar o espetáculo). Ele retirou o foco do ator e passou para o diretor (antes iam para o teatro ver a atuação de certo ator importante e depois passaram a ir pela interpretação do diretor-encenador). Agora os tópicos do caderno (com observações):

· Personagens principais:

- Alaíde (a principal, que se muda para a casa aonde ocorreu o assassinato de Madame Clessi; fura o olho da irmã Lúcia; é atropelada e, na cama de hospital, tem flashbacks e alucinações com Madame Clessi - ela leu o diário ao encontrá-lo na casa).

- Lúcia (a irmã cega - olhos furados)

- Pedro (ex-namorado de Lúcia, trái com Alaíde e se casa com ela)

- Madame Clessi (cafetina da alta sociedade, se impõe perante a hipocrisia da sociedade)

· Vestido de noiva é um marco no moderno teatro brasileiro devido a:

- Tema abordado (crítica à prostituição, ao casamento, à suposta fidelidade conjugal, à hipocrisia da sociedade)

- Ao cenário (os 3 campos de atuação são separados em 3 patamares - memória, realidade e alucinação)

- Trazer a importância para figura do diretor (Ziembinski - diretor e encenador)

· Cenas importantes

Ø Fã numero 1 - Alaíde mostra sua admiração por Madame Clessi e como essa enfrenta os tabus da sociedade.

Ø Cortesã

Ø Clessi enfrenta a sociedade - mostra a hipocrisia da sociedade frente à prostituição e a personalidade forte e convicta de M.Clessi.

Ø Briga das irmãs - quando Lúcia briga com Alaíde por esta ter roubado seu namorado Pedro; é quando Alaíde joga a cupa na sociedade (determinismo): "Fiz o que muitas fazem'.

Ø Lúcia sozinha - mostra a importância que a sociedade dá às aparências, por temer que Lúcia possa fazer um vexame se for ao casamento de Alaíde e Pedro.

Ø Hipocrisia da sociedade

Ø Memórias que não aconteceram - mostra o campo da alucinação e os desejos de Alaíde de ser como Madame Clessi.

· Frases Importantes

Ø Grossa ou fina tanto faz - comentário sobre o casamento: independente da aliança, o casamento é a mesma farsa (crítica social).

Ø Quero ser como você, usar espartilho - ideal de beleza de Alaíde, mesmo que para a sociedade seja algo condenável.

Ø Sou louca? Que bom - critica o conceito de loucura numa sociedade hipócrita.

Ø Fiz o que muitas fazem - Alaíde joga na sociedade a culpa pelo que fez (determinismo).

Ø E quem é que tem pudor quando ama - visão do amor como sendo puramente carnal.

Ø Somos três cínicos, eu, você e ele - mostra para Lúcia que por mais que todos se façam de inocentes, todos tem culpa pelos desenlaces amorosos da história.

Observações (errata): 1- A Lúcia não é cega, foi só meu trocadilho infeliz por terem furado o olho dela. 2- Não faz tanta diferença, mas quem disse a frase "Somos três cínicos, eu, você e ele" é Lúcia e não Alaíde. 3- Se é algo condenável para a sociedade, Madame Clessi usa e ela quer usar, é porque, de certa forma, ela aprecia a "audácia" de madame Clessi ao ir contra a sociedade. 4 - Eu troquei a cena "Hipocrisia da sociedade" pela "Lúcia sozinha no quarto". Pequena adição: No Brasil, o teatro moderno foi iniciado numa época em que o Teatro de Revista e a Comédia de Costumes eram os gêneros preferidos, por falarem do cotidiano (crítica rasa e irônica). Getúlio Vargas apoiava o teatro, mesmo que este lhe mostrasse de maneira caricaturada.

Agora a influência mais direta das vanguardas no Teatro Brasileiro, que surgiram na década de 1940...

· Teatro brasileiro de comédia (TBC)

Ø Objetivo: fazer um teatro de qualidade e puramente comercial

Ø fundado por Franco Zampari, vindo da Itália, em 1948

Ø Primeiro grupo a fazer pesquisas na área de consumo (para saber o que o povo queria ver nos teatros)

Ø Inovou na:

- Estética (diretores e bastidores com formação teatral
- Interpretação (profissional, com atores treinados)
- Qualidade dramatúrgica (textos trabalhados e seletos)
- Preferência por textos estrangeiros (maior qualidade)

Ø Contribuições do TBC:

- Teatro de equipe (todos profissionais, sem “panelinha”)
- Profissionalização do fazer teatral

Ø O grupo encerra as atividades em 1964



· Grupo Teatro de Arena

Ø Criado em 1953 por José Renato (brasileiro que estudou no exterior)

Ø Teatro político e social (crítica/denúncia das mazelas sociais)

Ø Proposta de teatro:

§ Oposicionista » contra o sistema capitalista instaurado

§ Nacionalista » preza por mostrar a realidade do povo brasileiro

§ Popular » conseguiu muita popularidade, ao menos no início, quando era novidade.

Ø Principais pensadores do grupo:

- Augusto Boal (que, posteriormente, cria o Teatro do Oprimido)
- Guarnieri (estudou Teatro no exterior e trouxe novas técnicas de representação)

Ø Nacionalização de Clássicos » adaptação para a realidade nacional de clássicos como Shakespeare

Ø Musicais – temas históricos nacionais contados por meio de uma peça cantada. Similar ao coro no teatro grego, é desenvolvido o “sistema coringa”, no qual uma parte dos atores é responsável por explicar a peça para os espectadores. Os dois musicais foram:

- Arena conta Tiradentes
- Arena conta Zumbi

Ø Censura militar – como forma de escapar da censura, são abolidas as tradicionais peças críticas e é instalado um novo sistema, baseado nas técnicas de:

- Teatro jornal (forma de encenação para burlar a censura, mostrando a realidade entre os fatos da imprensa censurada)
- Dramaturgia Simultânea (público da idéia, e o ator improvisa)

Ø O grupo encerra as atividades em 1971




· Teatro do Oprimido

Ø Surge no exílio de Augusto Boal, vítima da censura militar.

Ø Teatro político e social, criado pela platéia (“oprimidos”)

Ø Tem por objetivo oferecer ao povo os meios de producão teatral, antes dominados pelos atores/produtores.

Ø Principais vertentes:

- Teatro Imagem: o grupo monta uma cena estática, que o público pode alterar para mudar a realidade da cena de opressão que está sendo mostrada – o uso da linguagem corporal é o mais importante;
- Teatro Invisível: os atores fazem uma cena em público, sem mostrar à platéia que aquilo é teatro – geralmente as cenas representam situações de opressão do cotidiano, causando na platéia uma reflexão sobre os problemas pelos quais ela passa no dia-a-dia de oprimido;
- Teatro Fórum: teatro de debate: a cena de opressão é refeita de acordo com as sugestões da platéia, que tenta inverter a situação de opressão gerada pelos atores.

Ø Centro do teatro do oprimido (CTO): centro criado por Boal para capacitar pessoas para trabalharem com o Teatro do Oprimido pelo Brasil afora.

· Grupo Oficina:

Fundado por José Celso Martinez Corrêa (ou Zé Celso, para os íntimos) em 1961, o grupo Oficina de Teatro juntava o que havia de melhor no teatro da época: a estética e a técnica do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e a temática crítica do Arena.

Baseado na Fase Antropofágica da Modernismo brasileiro, Zé Celso monta a peça “O Rei da Vela“, de Oswald de Andrade, em 1967. “A dramaturgia bombástica me fazia sentir atuando dentro da raiz e da alma brasileira; nesta peça, o Oswald falava do Brasil de uma forma antropofágica, devorando o que gente tinha de bom e de péssimo. O Oswald pegou o Brasil por todos os lados, devorou-o e depois o cuspiu no palco. E eu assinei em baixo, com sangue, suor e lágrimas…”, disse um dos fundadores do grupo sobre o texto e a peça. E é basicamente sobre isso que fala o texto de Oswald: crítica sobre a mentalidade brasileira que se sente inferior ao que vem de fora. A proposta de Oswald é que se engula a mentalidade de fora e se cuspa no palco, criando uma mentalidade completamente brasileira, que fale dos problemas do Brasil e de seu povo. ”O Rei da Vela” é uma crítica ao capitalismo e à ambição do brasileiro que, pelo prestígio do estrangeiro, entrega até a mulher (mazelas sexuais e casamento por interesse).

Em 1974, pelo A.I. 5 da ditadura, os militares invadem e fecham o teatro. Em 1993 ele é remontado em São Paulo por Zé Celso, com uma nova proposta de teatro: a neoritualização do fazer teatral (mãedequem?). O teatro, nos seus primórdios, surgiu como um ritual a Dionísio, onde todos participavam. Neoritualizar o teatro é tornar o teatro novamente um ritual: todos podem participar da atuação. Essa nova forma de montagem do espetáculo recebeu o nome de “Te-ato” e, para ser feita, Zé Celso criou um ambiente especial para suas apresentações – um longo corredor com a platéia aos lados sem ser separada dos atores (logo, a platéia pode simplesmente entrar na cena e fazer parte da apresentação).

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